04/11/11

"A importância da Animação para o desenvolvimento cognitivo e pessoal do Idoso institucionalizado”.


Ao longo destes 4 anos de trabalho no terreno e das inúmeras investigações que temos realizado, tem-se verificado que o trabalho de animação de idosos ganha uma maior importância quando se trata de idosos institucionalizados. Ao longo do nosso Projecto "Animar o Presente", tem-se verificado que os idosos têm uma tendência natural para se auto-excluírem de viver, sentindo-se bastante inúteis, afastando-se aos poucos da sua vida social e do meio em que estão inseridos.

Esta situação deve-se ao facto de existirem poucas actividades para os idosos institucionalizados, comparativamente aos idosos que vivem nas suas casas, devido à solidão que sentem mesmo estando no meio de tantos idosos e, também, às alterações a que são sujeitos quando entram para uma instituição. Levando a uma participação quase inexistente do utente na vida da instituição, na vida pessoal e, consecutivamente, na vida comunitária.

Do nosso ponto de vista, a animação de idosos começa quando respeitamos os seus direitos fundamentais, tais como o direito à escolha, à privacidade, à integração e à sua participação activa. Para além destes factores, a qualidade de vida do idoso depende também do acompanhamento decente, cuidado e eficiente que os funcionários lhes prestam. Definimos a animação de idosos como o meio de actuar em todos os campos de desenvolvimento da qualidade de vida dos mais velhos, sendo um estímulo permanente na vida mental, física e afectiva do idoso e tendo como objectivos: garantir os direitos dos idosos; combater o imobilismo e a indiferença; ajudar a aliviar tensões e divertir.

No entanto, quando se fala em prioridades a animação é encarada pelas instituições, quer públicas quer privadas com ou sem fins lucrativos, como uma necessidade secundária, dirigindo os seus recursos, sobretudo, para a higiene, saúde e alimentação. Esquecendo-se que se fosse encarada como uma necessidade básica poderia contribuir e muito para o cuidado do idoso e para a melhoria da sua qualidade de vida, tal como podemos verificar após a analise do impacto global do projecto nos utentes.

A animação cria, assim acontecimentos, que vêem inovar a rotina diária fazendo as pessoas conviverem umas com as outras e por sua vez leva a uma diminuição da conflitualidade entre eles. E estando ligada às artes plásticas e à motricidade faz com que os idosos melhorem ou mantenham a sua autonomia e capacidade de movimento, pois os idosos dispõem de muito tempo livre.

Porém, com o decorrer do projecto e, enquanto animadoras, fomos constatando que a importância da animação vai mais além, devido às dificuldades que temos encontrado relacionadas com os idosos. Assim, temos verificado que a entrada tardia dos idosos numa instituição faz com que o aparecimento de incapacitados seja cada vez mais frequente e a sua permanência seja mais curta, condicionando as actividades propostas. Para além dos idosos que devido à idade vão perdendo capacidades físicas, encontramos cada vez mais idosos com doenças degenerativas (Alzheimer, Parkinson e a Osteoporose), que não podem ser esquecidos. Estes, também, merecem que se pense neles, se investigue e se adeqúem as actividades às suas necessidades.

A importância do descanso nestas idades é cada vez mais sentida, manifestando-se sempre que surge uma mudança de ritmo, já que os idosos têm uma tendência sedentária. Desta forma, sentimos a necessidade de adaptar o ritmo aos seus problemas físicos e mentais, não esquecendo as suas necessidades. Por outro lado, é aferido que muitas vezes usam o cansaço como pretexto para não participarem nas actividades, ou mostram-se renitentes à mudança devido a razões de comodismo ou devido ao facto de terem pouca confiança nas suas capacidades.

E, se por um lado, não existe uma homogeneidade nas idades, nos interesses e percursos de vida dificultando a sua união e receptividade na inclusão do grupo, por outro lado, temos idosos que ou mantêm uma atitude negativa, excluindo-se do grupo; ou são agressivos, introvertidos, teimosos, … (comportamentos frequentes nos idosos institucionalizados, devido à solidão, inacção e monotonia que sentem). Este tipo de atitudes tem-nos permitido adquirir novos conhecimentos, tanto ao nível da animação com idosos, como das suas motivações e estratégias para mudar os seus comportamentos.

A interacção com a família, o carinho desta, é igualmente importante para uma boa integração dos idosos. A verdade é que épocas como as do Natal têm-se tornado um período difícil do ano para aqueles que são idosos, cujos filhos vivem longe e não podem estar presentes com os pais. Para muitos idosos celebrar o Natal é ter a oportunidade de estar com a família mais próxima, partilhar a possibilidade de estar com os entes queridos, num tempo marcado pelo abandono e falta de humanidade para com os mais velhos. Tendo-se verificado essa dura realidade, principalmente por o idoso estar num lar sem ter a possibilidade de ter a presença dos parentes próximos. Mas, alegra-nos ver que de ano para ano esta realidade tem tendência a melhorar e sabemos que o nosso trabalho não fica por aqui, porque felizmente os idosos estão a voltar a ter uma voz activa na sociedade.

Com este projecto pioneiro pretende-se, antes de mais, resgatar o valor do idoso, incluindo a velhice na linha da vida. Muito mais que acentuar perdas e défices, é importante ter uma visão mais realista e construtiva. Desta forma, encaramos a Animação Sociocultural não como uma futilidade, mas como uma necessidade básica na vida de todos. É entendida pela ANIMACLUB, como uma estratégia de intervenção promotora de desenvolvimento.

Das análises feitas dos problemas e das necessidades torna-se evidente a urgência de combater a inactividade. Através de uma intervenção social eficaz poder-se-á evitar que o idoso não se perca em lembranças do passado, mas ajudá-lo a viver melhor o presente, tendo em conta, que uma velhice bem sucedida passará sempre pela interligação de três factores: a saúde, a manutenção de um bom funcionamento cognitivo e físico, e a manutenção da participação social.

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